MP INVESTIGA TROTE MACHISTA E MISÓGINO DA UNIFRAN

Alunos do curso de Medicina realizam trote de extremo mau gosto


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O Ministério Público instaurou um inquérito civil nesta terça-feira (5) para investigar a suspeita de conduta machista, misógina e sexista de alunos do curso de medicina da Universidade de Franca- UNIFRAN durante um trote aplicado aos calouros da instituição.


Um vídeo que está circulando nas redes sociais na internet mostra alunos ajoelhados em uma rua, com os corpos pintados com tinta e repetindo uma espécie de juramento, que é lido em voz alta por um universitário.


“Juro zelar por suas reputações, mesmo que eles sejam desprovidos de beleza (...). Juro solenemente nunca recusar a uma tentativa de coito de um veterano ou de uma veterana, mesmo que eles cheirem a ‘cecê’ vencido e elas a perfume barato”, diz o texto.


Em outro áudio divulgado, um grupo de calouros também é incitado por um veterano a fazer o juramento: “(...) e prometo usar, manipular e abusar de todas as dentistas e fazer [inaudível] que tiver oportunidade, sem nunca ligar no dia seguinte”.


Em nota, a Universidade de Franca informou que repudia quaisquer atos que incitem preconceito, homofobia, machismo, discriminação e constrangimento, destacando que os estudantes estão sendo identificados e serão penalizados.


A Associação Atlética Acadêmica Doutor Ismael Alonso Y Alonso, o Centro Acadêmico Tomás Novelino e o Núcleo de Apoio Escutamos, Lutamos e Acolhemos, reconheceram o "cunho ofensivo do discurso feito" e informaram que estão "tomando providências" sobre o assunto.


"Estamos trabalhando todas as entidades estudantis e alunos para que isso não ocorra novamente. Pedimos desculpas a todos que se sentiram ofendidos, em especial à Odonto Unifran e Facef - Centro Universitário Municipal de Franca pelos comentários infelizes citados nessa tarde", diz nota enviada pelas entidades estudantis.



O promotor Paulo César Correa Borges diz que convocará representantes da reitoria da Unifran a explicar quais medidas serão adotadas em relação ao caso e como a instituição tem aplicado a Política Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres. “Do ponto de vista de algum constrangimento contra calouros, considerado individualmente, isso é atribuição da Promotoria de Justiça Criminal, e depende de iniciativa dessas pessoas que se sentiram constrangidas a partir dessa forma, desse evento”, explica.


Em nota, o Conselho da Condição Feminina de Franca manifestou repúdio ao ato, afirmando que a “cultura machista” não pode ser considerada brincadeira e destacando que um trote em que meninas fazem coisas humilhantes e são colocadas como objeto sexual é inaceitável.“Esse grupo de estudantes envergonha nossa cidade e, claramente, essa Universidade de tanto prestígio. Se aproveitam do fato de que jovens universitários, em momento de festa e descontração, se sujeitem a situações deploráveis como essa”, diz o comunicado.


Ciente do caso, a Comissão de Combate à Violência contra a Mulher da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) encaminhou o material ao Ministério Público. A vice-presidente da Comissão, Ana Beatriz Junqueira classifica o trote como “violação aos direitos sexuais da mulher”. “O que significa isso? As mulheres não podem escolher sobre seu próprio corpo, sobre com quem vão se relacionar. Isso é uma violação aos direitos humanos. Não podemos permitir que esse tipo de conduta continue se perpetuando”, afirma.


As associações atléticas dos cursos de direito, arquitetura e urbanismo, e odontologia da Unifran também publicaram notas de repúdio ao trote aplicado pelos veteranos de medicina, citando “prática de violência”, “discurso de ódio” e “opressão”.


Representante da Associação Atlética Acadêmia Dionísio Vinha (AAADV), a universitária Simone Cristina Feitas diz que o trote desconsidera não só as mulheres, mas as estudantes de odontologia e a própria Universidade, fundada há quase 50 anos. “Querendo ou não, eles não prejudicaram só eles, prejudicaram todo mundo. A faculdade é muito numerosa, tem muitas pessoas. Eles não podem fazer uma coisa para generalizar. Do jeito que eles falaram, acaba com todo mundo”, afirma.

Fonte: G1

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