ESCORPIÕES ASSUSTAM MORADORES

Casos aumentaram em dois anos. Vigilância em Saúde atua no combate com dedetização



Moradores de São Joaquim da Barra estão sofrendo com infestações de escorpiões. Há relatos do surgimento em vários bairros, e com maior frequência há dois anos.



“Moro há nove anos na mesma casa e agora que começou a aparecer. Ao todo já foram dez. Em uma das vezes, minha filhinha de seis anos estava brincando com a boneca quando um escorpião grande saiu de dentro da roupinha. Imagina o desespero da criança? Já não sei o que fazer, há uns 20 dias apareceu outro no banheiro”, relata Alessandra Tazinaffo Martins, moradora do bairro Jardim Luciana, completando que na casa de seu pai, que fica no bairro da Baixada, também foram encontrados 15 escorpiões.

Image titleEscorpião encontrado pela moradora Luciana Borges

Mãe de uma criança de cinco anos, Ivanete Costa, moradora da Lapa vive em estado de alerta. “Tomo o maior cuidado possível. Aqui é tudo tampado, não tem barata, tampo os ralos dos banheiros, até a borracha da máquina de lavar eu envolvo com plástico. Limpo a casa duas vezes na semana com querosene, e ainda assim sempre aparecem”, informa.

Ivanete reclama que ao acionar o setor da Vigilância Sanitária solicitando a dedetização, o mesmo informou que não poderia fazer quase nada. “Já pedi pro agente ir em horário determinado pois trabalho o dia todo, e ele insiste em ir em horário comercial e deixa a notificação na caixa de correspondência. Definitivamente estamos à mercê desses peçonhentos”.



No Centro da cidade também há relatos do surgimento de escorpiões. Luciana Borges, que mora há mais de 30 anos na mesma casa ficou apavorada quando se deparou com o animal há uns 15 dias, e não foi a primeira experiência. “No ano passado minha filha estava dormindo no meu quarto em um colchão no chão, ela sentiu algo na mão e clareou com o celular, era um escorpião. Ela se assustou e jogou ele longe. Minha cachorrinha estava deitada ao lado dela. Graças a Deus nenhuma das duas foi picada”.


De acordo com Marcos Peraro, que possui uma empresa no Centro da cidade, foram encontrados quatro em menos de dois meses. ”Inclusive um deles foi por esses dias”, diz.

Image titleEscorpião encontrado na casa de Danyela Borges, no Centro da cidade

Giovanna Carvalho Oliveira Poloni, que mora no Pedro Chediack, também não tem sossego. “Tenho pavor e só de pensar que agora com as chuvas a tendência é eles aparecerem com mais frequência, já fico apavorada. Tampo tudo aqui em casa, não deixo nenhum ralo destampado”, diz.


“Perdi as contas de quantos encontramos aqui em casa”, relata Vera Lúcia Bianco Borges. “No banheiro, no quarto, na sala, no corredor... Entrego nas mãos de Deus, pois tenho uma criança de três anos”.


“Ano passado foi terrível. Fiz até uma postagem em rede social pedindo ajuda”, diz Luciana Rodrigues.


“Cheguei à noite da escola, fui tomar um leite antes de dormir e quando olho na pia da cozinha lá estava ele. Quase tomei uma picada ao pegar a esponja pra lavar a louça que tinha sujado”, relata Deh Lopes.


“Moro no bairro Tancredo e aqui já perdi as contas de quantos apareceram...é um perigo pra quem tem criança, como eu”, informa Cláudia Elisa.



“Na minha casa achei dois, um grande na garagem e outro pequeno na copa. Uso querosene em tudo, inclusive nos ralos”, diz Wanessa Santos.



VIGILÂNCIA EM SAÚDE INTENSIFICOU O COMBATE


Ouvido por nossa reportagem, o coordenador da Vigilância em Saúde de São Joaquim da Barra, Marcos Rogério Guedes informou que tem trabalhado de forma incisiva no combate às pragas urbanas, vistoriando locais notificados e orientando a população.


“Foi realizado uma dedetização nas redes de esgoto de São Joaquim da Barra nesse segundo semestre, onde contratamos, vias legais, uma empresa que fez um trabalho de controle com a utilização dos inseticidas homologados na ANVISA que foram: Bifentrina e Lambdacialotrina – produto de suspensão concentrada na formulação micro encapsulada para o combate ao escorpião 5/1. O efeito toxicológico dos inseticidas na barriga do escorpião se dá através da via respiratória atingindo o seu sistema nervoso”.


O coordenador informa ainda que houve redução moderada das denúncias do escorpião em relação ao ano passado, lembrando que também fazemos parte deste processo e por isso devemos fazer a nossa parte.


De acordo com ele, encontrando escorpião, rato ou qualquer outro animal, a Vigilância deve ser notificada através do número 16 3728 5319. “Nosso atendente irá anotar a denúncia e passará imediatamente ao agente de campo, que no tempo hábil comparecerá ao local, vistoriando e fazendo as orientações devidas e ao mesmo tempo fazendo a aplicação do veneno para o escorpião”.


O coordenador ressalta também que o inseticida é um produto que agride a saúde da população e do aplicador, devendo ser aplicado com certificação de bons resultados e que o melhor procedimento é eliminar os riscos para esconderijo do escorpião e evitar que com a aplicação de inseticida o escorpião se desaloje invadindo a residência, aumentando a gravidade do caso.

Image titleAgentes do Controle de Vetores da Vigilância atuam no combate às pragas no cemitério local



Marcos frisa que a melhor solução é tomar os seguintes procedimentos: Manter limpeza e capinagem sistemática em terrenos baldios e residências; Não descartar lixo e outros em vias públicas, bueiros e terrenos baldios; Manter os quintais livres de restos de materiais de construção, madeiras e outros; Não acumular objetos que não têm utilidade nos quintais e dentro das residências ou em “quartinhos”, debaixo de pias e tanques; Vedar quaisquer ligações com o esgoto por 24 horas, fechando após o uso; Rebocar paredes e muros, principalmente os de bloco 8 furos; Vedar os buracos existentes nos concretos dos quintais, frestas ou espaço parede/muro; Promover limpeza dos terrenos maiores em imóvel em construção; Não abandonar carrocerias, carros nos pastos do município ou áreas verdes ou construir “piquetes” para cavalo ou porcos e galinheiros; Para paredes e muros com limitação em pastos rurais deve se pintar barrado de aproximadamente 60 cm com a tinta neutrol (tinta preta).




INSTITUTO BUTANTAN NÃO RECOMENDA DEDETIZAÇÃO

 

Para esclarecer algumas dúvidas, entramos em contato com a Dra Fan Hui, gestora de projetos do Núcleo Estratégico de Venenos e Antivenenos e com a bióloga Denise Cândido, do Laboratório de Artrópodes, ambas do Instituto Butantan.

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A informação que obtivemos em relação à proliferação dos escorpiões, principalmente de outubro a janeiro, quando as chuvas e o calor se intensificam, é que existe uma relação com a sazonalidade no número de acidentes observados ao longo do ano nas regiões Sudeste e Sul do Brasil. Por outro lado, é possível ver que essa distribuição não corresponde ao que ocorre na região Norte e Nordeste. De toda maneira, pode-se dizer que temperaturas elevadas e alto índice de umidade favorecem sim a proliferação de escorpiões, mas não significa que eles não estejam presentes em condições de baixa temperatura, ainda que em menor número. É preciso levar em conta ainda se outros fatores do ambiente são favoráveis a proliferação dos animais, como a presença de lixo ou entulho nas proximidades das casas, que pode atrair baratas, principal alimento dos escorpiões.


Os escorpiões são partenogenéticos, ou seja, as fêmeas não necessitam acasalar para se reproduzirem, podendo ter de 2 a 3 crias por ano, com cerca de 20 a 30 filhotes por cria. No entanto, a sobrevida é relativamente baixa (cerca de 10% em laboratório).


Para combater o animal o veneno que é aplicado com o controle químico não é o suficiente, uma vez que só leva à morte do escorpião se aplicado diretamente sobre o animal. Ao realizar o controle químico pode ocorrer a fuga e dispersão dos escorpiões para locais contíguos, onde o estresse pode levar o animal a se reproduzir, mas a sobrevivência dos filhotes normalmente não é elevada nessas condições.


“De acordo com o Butantan, o manual de controle de escorpiões, elaborado pelo Ministério da Saúde, não recomenda a dedetização para o controle dos escorpiões”.


Para diminuir a incidência desses temidos animais peçonhentos elas orientam manter jardins, quintais e terrenos limpos, evitando acúmulo de lixo e entulhos, vedar as soleiras das portas, frestas e buracos nas paredes e usar telas em janelas, ralos, pias e tanques são medidas de muita valia no combate as essas pragas.


Mesmo realizando todos esses procedimentos as chances de contato com o animal não são totalmente zeradas, e em caso de picadas, seja por um escorpião filhote ou adulto (este com maior repasse de veneno) recomenda-se procurar uma unidade de saúde o mais rapidamente possível para tratamento da dor, avaliação da necessidade do soro antiescorpiônico. Este é indicado, sobretudo, para crianças menores de 12 anos que apresentam náuseas, vômitos, alteração na pressão arterial e agitação. O soro deve ser administrado o mais precoce possível, para evitar complicações graves como arritmia cardíaca, edema pulmonar e choque, que podem levar o indivíduo ao óbito.

É um assunto que não se brinca e todo cuidado e atenção são recomendados para que haja segurança e proteção contra os escorpiões.



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