POPULAÇAO SE MANIFESTA POR MEDIDAS MAIS RÍGIDAS NO CONTROLE DA PANDEMIA EM SÃO JOAQUIM DA BARRA
Cidade chegou a registrar nove mortes em seis dias, uma das vítimas morreu à espera de leito de UTI
Moradores joaquinenses, insatisfeitos com a forma como a administração municipal de São Joaquim da Barra vem conduzindo as ações de combate ao novo coronavírus, criaram um grupo no WhatsApp para uma manifestação pacífica.
Encabeçado por Adriana Pereira Ceribeli, a ideia é sensibilizar o Ministério Público para que interceda junto à administração municipal para a necessidade de medidas mais restritivas para conter a pandemia.
Na segunda-feira, uma carta denúncia foi encaminhada ao Ministério Público com várias solicitações (Confira abaixo a carta na íntegra).
Entre outras medidas, o grupo pede a suspensão das aulas presenciais até que se controle a situação de colapso da Santa Casa. As manifestações se intensificaram ainda mais depois que a professora Fabiana Sarri Gama morreu, no domingo (6) à espera de um leito de UTI, por complicações causadas pelo covid-19.
Nesta terça-feira, uma carta em nome dos professores e funcionários das escolas municipais da cidade foi redigida e encaminhada à Câmara Municipal (leia no final da matéria), pedindo o retorno das aulas remotas até que os professores sejam imunizados.
Nas redes sociais, professores e pais de alunos se manifestam contra a abertura das escolas neste momento de colapso e pedem medidas mais rígidas para controlar a pandemia. A população está assustada com o movimento na cidade, pessoas andando sem máscara e também há relatos de pessoas circulando contaminadas.
O boletim epidemiológico desta terça-feira traz o total de 5.253 casos de covid-19 deste o início da pandemia. São 102 casos a mais em 24h. A cidade também registrou 9 mortes em 6 dias, chegando ao número de 119 mortes no total.
Veja abaixo a carta-denúncia à promotoria e a carta dos professores à Câmara Municipal.
"Nós, joaquinenses e integrantes do grupo VIDAS IMPORTAM, vimos mui respeitosamente solicitar a V. Exa. que auxilie na condução das ações de combate à Pandemia pela covid 19 em São Joaquim da Barra, considerando que já estamos na marca de 119 mortos até o presente momento sendo que somente em 2021 foram 85, sendo muitas delas por falta de leito de UTI, mostrando que a alta transmissão em nossa cidade faz com que o sistema de saúde fique estrangulado deixando os pacientes sem poder receber um tratamento digno numa UTI, sem a chance de poder sobreviver e considerando também que o Poder Executivo não se dispõe a tomar as devidas providências como as que seguem sugeridas:
• Aumento do efetivo da vigilância sanitária afim de melhorar a fiscalização na cidade junto a população, orientando sobre os protocolos de saúde, necessidade de distanciamento e uso de máscara, e aplicação de sanção em casos de reincidência, sem prejuízo aos empresários e comerciantes;
• Aquisição de Eco Teste (antígeno) para a realização de testagem em massa da população;
• Implantação de barreira sanitária;
• Agilidade na aplicação de vacinas incluindo plantões aos finais de semana e feriados;
• Suspensão das aulas presenciais até que a Santa Casa e o hospital de Campanha descongestionem;
• Auxílio ä Santa Casa para melhoria de estrutura com equipamentos e profissionais qualificados;
• Distribuição de cestas básicas e Kit escolar com a máxima urgência considerando o desemprego e a fome em virtude da pandemia;
• Responsabilização do poder executivo pela negligência na condução das medidas de combate a disseminação da corona vírus e consequente aumento no número de contaminados e mortos.
Entendemos que tal manifestação é legítima respaldada pela legislação, assim como respeitamos e consideramos o Ministério Público como única saída para o controle efetivo da disseminação desta doença cruel, o prefeito Sr. Wagner José Schmidt demonstra através de suas falas ser negacionista e contra a ciência o que nos deixa muito preocupados e temerosos por nossas vidas.
ADRIANA APARECIDA PEREIRA CERIBELLI
GRUPO VIDAS IMPORTAM"
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Carta dos professores enviada nesta terça-feira (8) à Câmara Municipal.
"São Joaquim da Barra, 08 de junho de 2021.
Ilustríssimos Senhores Vereadores da Câmara Municipal de São Joaquim da Barra,
Nós, professores, educadores, funcionários e equipe de apoio das Escolas e Creches Municipais vimos por meio desta carta relatar o que estamos enfrentando nas nossas escolas no exercício da nossa profissão. Retomamos as aulas de modo presencial no dia 03/05/2021, respeitando o limite estabelecido de 35% dos alunos por sala de aula.
Em pouco mais de um mês, quatro funcionários da escola Creso positivaram para Covid-19 e três aguardam confirmação por meio de teste (vale destacar que esses funcionários fizeram o teste de modo particular para que obtivessem o resultado mais rapidamente, não tendo a administração pública dado nenhum suporte nesse sentido). E o mais trágico de tudo isso foi que no último domingo tivemos que nos despedir de uma amiga muito querida, funcionária da escola, mais uma vítima dessa doença. No momento, a unidade escolar está em quarentena. Porém, isso só aconteceu após a confirmação do terceiro caso e por determinação da Vigilância Sanitária, enquanto o Departamento da Educação pedia discrição, ocultando das famílias o risco a que as crianças estavam sendo submetidas.
Escolas estaduais também sofrem situações parecidas. A gestão do problema é tão incoerente que professores que se encontram em quarentena pelo Creso seguem trabalhando em outras escolas municipais, por falta de uma gestão unificada de controle da pandemia. Também nesse período houve diversos relatos de alunos que foram à escola mesmo com casos positivos de familiares em suas casas, apesar de todas as orientações dos professores para que as crianças ficassem em casa nessas situações. Houve, inclusive, um caso de uma mãe que, enquanto estava internada no Hospital de Campanha da nossa cidade, ligou para a professora para falar a respeito da filha, que continuava a frequentar a escola normalmente. Percebemos, no trato direto com as famílias, que boa parte da população ainda sofre com a desinformação a respeito dos protocolos necessários para conter a disseminação da doença, o que coloca crianças e funcionários em maior risco ainda.
Retornamos à escola no pior momento da pandemia desde o seu início no ano passado. O primeiro boletim epidemiológico divulgado pela nova gestão municipal apontava 1733 casos confirmados e 32 óbitos. Quando retomamos as atividades presenciais, os casos positivos eram 3794 e os óbitos haviam saltado para 81, aumentando para 119 no presente. Estes dados revelam como a pandemia tem evoluído rapidamente em nossa cidade, principalmente no período em que retornamos de modo presencial. Apesar de sermos grupo prioritário, apenas os profissionais da educação acima de 47 anos começaram a ser vacinados. As unidades Creso, Cepim e Casa do Menor Santa Lúcia foram colocadas em quarentena. Algumas outras escolas continuaram suas atividades mesmo com casos positivados (por exemplo, Fernando César, Martorano, Antonieta).
Faltam também os materiais necessários para a higienização adequada do ambiente escolar. É consenso que, para a desinfecção de superfícies, o álcool 70% é o mais adequado. Porém, professores já presenciaram a desinfecção das carteiras escolares com álcool 46%, comprovadamente ineficaz para tal fim. Com relação aos EPIs, cada professor ganhou apenas uma máscara e um face shield, este último tendo sido entregue apenas no início do mês de junho.
De tudo que foi relatado, está claro que a administração municipal não tem como garantir a segurança de funcionários em serviço, bem como das crianças e seus familiares. Nossa cidade sofre com o aumento de casos e mortes quase que diárias. A Santa Casa de São Joaquim da Barra já declarou publicamente diversas vezes que está além do seu limite de atendimento. Pedimos encarecidamente que essa Egrégia Casa de Leis, fiel ao seu dever democrático de fiscalização da administração municipal, não poupe esforços para que a continuidade das aulas presenciais seja revista, principalmente nesse momento tão crítico da pandemia.
Pedimos o retorno das aulas remotas pelo menos até que todos os funcionários da educação tenham o seu esquema vacinal completo, em uma demonstração de cuidado e valorização da vida da população que lhes confiou seu voto.
Professores, educadores, funcionários e equipe de apoio das Escolas e Creches Municipais.
(Não nos identificamos por medo de possíveis perseguições, então nomeamos a Vereadora
Vera Flores para falar por nós)."














